sábado, 26 de dezembro de 2009

A Necessidade do Arrependimento

Irmãos, que mensagem incrível! Abismado pelo vigor com que o Senhor, por meio de J. C. Ryle, falou ao meu coração. Compartilho com vocês. Abraços!

A necessidade de arrependimento

J. C. Ryle

J. C. Ryle serviu por quase 40 anos como ministro do Evangelho. Foi um escritor prolífico, um pregador vigoroso e um pastor fiel. Muitas de suas obras têm sido reeditadas e servido como fonte de instrução e consolo para o povo de Deus. A Editora Fiel publicou algumas de suas obras em português: o clássico “Santidade”; “Uma palavra aos moços”; “Fé genuína” e os quatro volumes de meditações nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João.


"Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis." (Lucas 13.3).


À primeira vista, este versículo parece rude e severo. Posso imaginar alguns dizendo: "Isto é o evangelho? Estas são as boas notícias? São as boas novas sobre as quais falam os pastores? É um discurso árduo, quem o pode suportar?" (cf. Jo 6.60).

No entanto, de quem eram os lábios que proferiram estas palavras? Elas vieram dos lábios dAquele que nos ama com um amor que excede todo entendimento, o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus. Foram ditas por Aquele que nos amou tanto, que deixou o céu, desceu à terra, viveu de modo pobre e humilde durante 33 anos, por nossa causa; foi à cruz, morreu e foi sepultado por nossos pecados. As palavras que vieram de lábios como esses têm de ser, com certeza, palavras de amor.

Afinal de contas, há maior prova de amor do que avisar um amigo quanto ao perigo vindouro? O pai que vê seu filho caminhando em direção à beira de um precipício e, quando o vê, grita fortemente: "Pare, pare!", não é um pai que ama o filho? A mãe carinhosa que vê sua criança a ponto de ingerir algo venenoso e clama intensamente: "Pare, pare! Largue isso!", não é uma mãe que ama o filho? É a indiferença que deixa as pessoas sozinhas e permite que continuem seguindo o seu caminho. O amor, amor compassivo, adverte e ergue o clamor de alerta. O grito de "Fogo! Fogo!", à meia-noite, pode, às vezes, arrancar uma pessoa de seu sono - de modo rude, desagradável, severo. Mas, quem reclamaria se tal grito fosse o meio de salvar a vida daquela pessoa? As palavras "se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis" podem, à primeira vista, parecer severas e rudes. Contudo, são palavras de amor e podem ser o meio de livrar do inferno almas preciosas.

Consideremos agora a necessidade de arrependimento. Por que o arrependimento é necessário? O versículo citado no início deste artigo mostra claramente a necessidade de arrependimento. As palavras de nosso Senhor Jesus Cristo são claras, enfáticas e distintas: "Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis". Todos, todos, sem exceção, necessitam de arrependimento para com Deus. O arrependimento não é necessário somente para bêbados, ladrões, assassinos, adúlteros, fornicadores e encarcerados. Não. Todos os nascidos da descendência de Adão - todos, sem exceção - precisam de arrependimento para com Deus. A rainha no trono, o pobre que trabalha em seu ofício, o rico em sua sala de visitas, a empregada na cozinha, o professor de ciências na universidade, o jovem pobre e ignorante que trabalha no arado - todos precisam, por natureza, de arrependimento. Todos são nascidos em pecado; todos necessitam arrepender-se e converter-se, se desejam ser salvos. Todos precisam ter seu coração mudado quanto ao pecado. Todos têm de se arrepender e crer no evangelho. "Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus" (Mt 18.3). "Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis."

O que torna necessário o arrependimento? Por que Deus usa uma linguagem tremendamente forte a respeito desta necessidade? Por que o arrependimento é necessário?

(a) Primeiramente, sem arrependimento não há perdão dos pecados. Ao dizer isso, tenho de guardar-me de mal-entendido. Peço-lhe enfaticamente que não me entenda erroneamente: lágrimas de arrependimento não removem pecados. Dizer que elas o fazem é teologia errada. Remover pecados é uma competência e uma obra exclusiva do sangue de Cristo. A contrição não produz qualquer expiação de pecado. Dizer que ela o faz é teologia pervertida. Nossa melhor contrição tem defeitos suficientes para nos lançar no inferno. "Somos reputados justos diante de Deus somente por causa de nosso Senhor Jesus Cristo, pela fé, e não por nossas obras ou merecimentos",1 não por nosso arrependimento, santidade, caridade aos pobres ou qualquer coisa desse tipo. Tudo isso é verdade. Contudo, não é menos verdade que a pessoa justificada sempre se arrepende e que um pecador perdoado sempre será uma pessoa que lamenta e abomina seus pecados.

Em Cristo, Deus está disposto a receber homens rebeldes e dar-lhes paz, se vierem a Ele, em nome de Cristo, não importando quão ímpios tenham sido. Contudo, Deus exige, com justiça, que o rebelde deponha suas armas. O Senhor Jesus Cristo está disposto a ter compaixão, perdoar, dar alívio, purificar, lavar, santificar e preparar para o céu. Todavia, Ele deseja ver o homem odiando os pecados para os quais deseja obter perdão. Se quiserem, alguns homens podem chamar isso de "legalidade". Se lhes agrada, que o chamem de "servidão". Eu fico ao lado das Escrituras. O testemunho da Palavra de Deus é claro, inconfundível. Pessoas justificadas sempre são pessoas penitentes. Sem arrependimento, não há perdão de pecados.

b) Em segundo, sem arrependimento não há felicidade nesta vida. Existem coisas como exultação, entusiasmo, sorrisos e contentamento, enquanto as pessoas desfrutam de boa saúde e têm dinheiro no bolso. Mas essas coisas não são a felicidade inabalável. Há uma consciência em todos os homens; e essa consciência tem de ser satisfeita. Portanto, enquanto a consciência sente que ainda não houve arrependimento do pecado e que este não foi perdoado, ela não terá quietude e não permitirá que a pessoa fique tranqüila em seu íntimo...

c) Em terceiro, sem arrependimento não pode haver adequação para o céu, no mundo por vir. O céu é um lugar preparado, e aqueles que vão ao céu têm de ser um povo preparado. Nosso coração tem de estar em harmonia com as disposições do céu, pois, do contrário, o céu nos será um lugar infeliz. Nossa mente tem de estar em harmonia com a mente dos habitantes do céu, pois, do contrário, a comunhão das pessoas do céu nos seria intolerável... O que você faria no céu, se chegasse lá com um coração que ama o pecado? Com qual dos santos você conversaria? Ao lado de quem se assentaria? Com certeza, os anjos de Deus não entoariam música agradável ao coração daquele que não pode suportar os santos na terra e nunca louva o Cordeiro por seu amor redentor! Com certeza, a companhia dos patriarcas, dos apóstolos e dos profetas não seria satisfação para nenhum homem que agora não lê a sua Bíblia e não se interessa em saber o que os apóstolos e os profetas escreveram. Oh! não! Não! Não haveria felicidade no céu, se chegássemos ali com um coração impenitente...

Rogo-lhe, pelas misericórdias de Deus, que guarde no coração as coisas que acabei de dizer e pondere-as bem. Você vive em um mundo de engano, imposição e decepção. Não permita que ninguém o engane quanto à necessidade de arrependimento. Oh! que a igreja professa veja, saiba e sinta (mais do que o faz) a necessidade, a absoluta necessidade do verdadeiro arrependimento para com Deus! Há muitas coisas que não são necessárias. Riquezas e saúde são desnecessárias. Roupas finas não são necessárias. Amigos nobres não são indispensáveis. O favor do mundo é desnecessário. Muitos chegaram ao céu sem essas coisas. Talentos e erudição são dispensáveis. Milhões chegaram ao céu sem essas coisas. Milhares e milhares estão indo ao céu sem elas. Contudo, ninguém chegará ao céu sem o "arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo" (At 20.21).

Não permita que ninguém o convença de que um sistema de doutrina em que o arrependimento para com Deus não tem lugar de grande proeminência merece ser chamado de evangelho. Não há evangelho, se o arrependimento não é um dos principais elementos. Tal evangelho é do homem, e não de Deus. Procede da terra, mas não do céu. Não é evangelho de maneira alguma. É antinomianismo e nada mais. Enquanto você estiver apegado e preso aos seus pecados, você terá os seus pecados, embora fale o quanto quiser sobre o evangelho. Os seus pecados ainda não estão perdoados. Você pode chamar isso de legalismo, se quiser. Pode dizer, se quiser: "Espero que tudo saia bem no final. Deus é misericordioso, Deus é amor, e Cristo morreu. Espero que irei ao céu no final". Não, eu lhe digo. Tudo não sairá bem. Você está errado diante de Deus... Está menosprezando o sangue da expiação. Ainda não tem parte ou herança em Cristo. Enquanto você não se arrepender de seus pecados, o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo não é evangelho para sua alma. Cristo é um Salvador do pecado, e não um Salvador paro o homem no pecado. Se um homem quer continuar em seus pecados, chegará o dia em que o misericordioso Salvador lhe dirá: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mt 25.41).

Não permita que ninguém o engane, levando-o a supor que pode ser feliz neste mundo, sem arrepender-se. Oh! não!... Quanto mais você viver sem arrepender-se, tanto mais infeliz será o seu coração. Quando a velhice lhe sobrevier, e os cabelos grisalhos lhe encherem a cabeça; quando você for incapaz de ir aonde costumava ir e satisfazer-se no que outrora lhe dava prazer, a sua infelicidade e miséria irromperão como um homem armado... Escreva isto nas tábuas de seu coração: sem arrependimento, não há paz!

Espero ver muitas maravilhas no último dia! Desejo ver à direita do Senhor Jesus Cristo alguns daqueles que antes eu temia vê-los à sua esquerda. Verei à sua esquerda alguns do que eu supunha serem bons cristãos e esperava vê-los à direita. Todavia, há algo que, com certeza, não verei: à sua direita não verei nenhum homem que não se arrependeu.


Extraído de "Arrependimento", no livro Old Paths, reimpresso em inglês por Banner of Truth.

1. Trinta e Nova Artigos da Religião. Artigo XI, "A Justificação do Homem".


Copyright© Editora FIEL 2009.

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